Com mais de 90% de chance de cura se detectada precocemente, doença é a segunda maior causa de morte por câncer entre os homens no Brasil. Confira novidades no tratamento.
Há aproximadamente 25 anos, o pai do funcionário público federal Roberto Polastri, de 60 anos, teve um câncer de próstata. A partir daí, ele e seus outros cinco irmãos ficaram em alerta. Afinal, história familiar de pai, avô ou irmão com câncer da próstata antes dos 60 anos de idade é um fator de risco para a doença. Todos passaram a fazer exames preventivos e, desde então, dois dos irmãos já tiveram de passar por cirurgia para a retirada total da próstata. Ele, no entanto, não recebeu a mesma indicação, mesmo que tivesse apresentado aumento da glândula. “Fiquei preocupado e assustado, mas o que tive é uma prostatite aguda, uma inflamação na próstata que tratei somente com medicação”, conta.
Como medida preventiva, Roberto passou a fazer anualmente o PSA, sigla do inglês para o antígeno específico da próstata, cujo resultado da dosagem encontrada pode sugerir a existência da doença. “Os meus níveis sempre davam normais. À medida que fui envelhecendo, a próstata começou a inchar e apresentei os primeiros sintomas, como ir mais vezes ao banheiro para urinar”, lembra. Daqui a seis meses, ele volta ao médico para repetir os exames. “Desde o momento que nós, homens da família, soubemos que o câncer pode ser hereditário, passamos a monitorar de perto. É um tipo de coisa que não dá para ignorar e, mais ainda, que pode ser detectado cedo e com chances de cura”, comenta.
A campanha Novembro Azul anualmente busca alertar sobre o câncer de próstata, as formas de detecção precoce e os cuidados preventivos. Esse é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens brasileiros, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. A próstata é uma glândula que integra as estruturas internas do aparelho reprodutor dos homens, localizada na região pélvica, logo abaixo da bexiga, acima do reto e do assoalho pélvico (região do períneo). A principal função da próstata é a produção do líquido que forma o esperma.
Para se pensar em detecção precoce, é preciso conscientizar a população masculina da importância de se procurar o médico urologista regularmente, aponta Bernardo Barreira, urologista. “Temos uma questão cultural, onde o homem tem uma dificuldade grande de cuidar da própria saúde e de fazer consultas regulares. Importante destacar que a partir dos 45 anos, todo homem deve procurar o urologista pelo menos uma vez por ano para que seja possível a detecção precoce desse tipo de câncer”, diz. Nas consultas, o especialista vai examinar o paciente por intermédio de histórico familiar, analisando hábitos de vida e fatores de risco, como a obesidade, além de solicitar exames, como o PSA e realizar o exame de toque.
Ao detectar alguma alteração nessa primeira etapa, outros exames são solicitados, como ressonância da próstata e a biópsia, que fecha o diagnóstico de câncer. É importante o acompanhamento regular. Outro motivo para o monitoramento regular é que nem toda alteração no exame de PSA é sinônimo de um diagnóstico de câncer, destaca o urologista Rodrigo Lima. “Apenas um urologista vai avaliar qual a necessidade de exames mais avançados para concluir este diagnóstico”, reitera.
Sintomas
Um dos grandes desafios quando o assunto é câncer de próstata é que se trata de uma doença inicialmente silenciosa. “Na sua fase inicial, ele é silencioso e não causa sintoma nenhum. Normalmente, detectamos ele nos exames de rotina de rastreamento de câncer de próstata”, comenta o urologista Rodrigo Trivilato. “Quando esse tumor começa a dar sinais ou sintomas, como dificuldade para urinar, sangramento ou algum sinal obstrutivo urinário, isso quer dizer que ele já está numa fase avançada da doença”, diz.
Risco
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a idade é o principal fator de risco para o câncer de próstata, sendo mais incidente em homens a partir da sexta década de vida. Além disso, histórico familiar de câncer de próstata antes dos 60 anos e obesidade também estão na lista. Já a exposição a agentes químicos relacionados ao trabalho é responsável por 1% dos casos de câncer de próstata.
“Setenta por cento dos tumores malignos da próstata acometem homens após os 60 anos de idade. Mas os pacientes mais jovens podem também ser acometidos, inclusive com doenças mais agressivas e até incuráveis”, aponta Rodrigo Lima. “Algumas alterações genéticas acarretam maior risco de câncer de próstata agressivo em idades mais precoces, até antes dos 50 anos”, diz. Ele destaca ainda que em casos de câncer de próstata na família, especialmente parentes de primeiro grau acometidos (pai ou irmão), esse rastreamento deve iniciar entre os 40-45 anos.
Novidade
Recentemente, uma vacina contra o câncer de próstata criada por pesquisadores brasileiros foi aprovada para testes pelo FDA (Food and drug administration), agência reguladora dos Estados Unidos. A vacina surge como um promissor tratamento contra a doença e já obteve resultados bem-sucedidos em testes com humanos, entrando em uma nova fase de testes agora. Entre os resultados já apresentados, a recorrência da doença caiu de 37% para 12%, enquanto a mortalidade foi de 12,8% para 4,3%. O primeiro paciente norte-americano começou a receber o tratamento no mês passado.
Tratamentos
“O tratamento do tumor de próstata depende do estágio da doença, da idade, das comorbidades e até mesmo da preferência do paciente”, explica o urologista Rodrigo Trivilato. “O tratamento pode envolver desde vigilância ativa, em que observamos o paciente com exames de PSA e biópsia durante um ano; a cirurgia, que é retirada da próstata; radioterapia até a hormonioterapia”, diz.
O urologista Bernardo Barreira destaca que o diagnóstico precoce interfere diretamente no resultado do tratamento. “O Diagnóstico precoce nos ajuda a identificar a doença na fase inicial e aumenta bastante as chances de cura. Quando iniciamos o tratamento na fase inicial, estamos falando de mais de 90% de chance de cura”, diz.
A conduta será seguida de forma individual. “Temos a sorte de viver em um momento de evolução da ciência médica em que os tratamentos estão cada vez menos invasivos e os pacientes têm menos efeitos colaterais, como a cirurgia robótica, por exemplo, em que o paciente sangra menos, tem menos dor e apresenta menos taxas de complicações, como incontinência e disfunção erétil”, aponta.